Lendo a poesia de Tran Le Khanh, vejo uma jornada da poeira do mundo ao salão principal, da condição de uma pequena formiga à iluminação da natureza do "eu" e do "Buda". Essa jornada é repleta de tormento, mas também imbuída de compaixão, levantando a questão de para onde os humanos irão entre o vórtice do sofrimento e o desejo de libertação.
Impermanência, reencarnação, sofrimento e o desejo de libertação
Um dos temas proeminentes na poesia de Tran Le Khanh é o senso de impermanência — a consciência de que tudo muda e a vida humana é apenas um momento. Isso é claramente expresso pela imagem meditativa: "o universo é um cílio / cada piscar de olhos tira um dia". O universo subitamente se torna frágil, pode desaparecer em um instante. O tempo não é mais medido em dias e meses, mas em um piscar de olhos, mas contém o desvanecimento de todas as coisas. Esse é o espírito da impermanência: tudo muda, nada é eterno.
A sensação de impermanência também se reflete na vida humana. "Ó vós que rapidamente vos entediais e tendes sede/ a vida é um tempo em que as coisas familiares secam gradualmente". Este verso soa tão comovente. "Logo entediais e tendes sede" evoca a natureza humana, cheia de desejo e em constante mudança. Mas, mais profundamente, é um lembrete da perda que todos devemos experimentar: quanto mais vivemos, mais vemos "as coisas familiares secarem gradualmente". A impermanência não é apenas uma regra abstrata, mas uma experiência de vida amarga.

Se a impermanência é o fundamento, então a reencarnação e o sofrimento são os outros dois pilares. Tran Le Khanh descreveu o renascimento místico da alma e a erosão do corpo: "A alma tem apenas três anos,/ mas o corpo já rodou por nove vidas". Um paradoxo fundamental da vida humana: a juventude da alma contrasta com o envelhecimento do corpo. Este é o conceito dos cinco agregados no budismo, que o corpo e a mente não são idênticos nem eternos. Nesse sentido, ele escreveu: " Através de muitas vidas tempestuosas,/ o vento toca o rosto e ainda parece desconhecido". O "desconhecimento" aqui é tanto um sentimento de alienação do fluxo da vida quanto uma incognoscibilidade no ciclo da reencarnação. Ao longo de inúmeras vidas, as pessoas continuam perdidas, incapazes de encontrar sua "verdadeira face". O verso contém tristeza e também é uma expressão sutil de ausência de ego: não existe um eu fixo que exista ao longo de inúmeras vidas.
O sofrimento também é reconhecido no âmbito existencial, através da fragilidade da vida terrena: "O reino terrestre é tão tênue, meu querido/ O reino celestial não é suficiente para morder seus lábios para sempre". O reino terrestre é "tão tênue", facilmente quebrável. A felicidade no céu, aparentemente eterna, também não é duradoura porque "não é suficiente para morder seus lábios para sempre". O verso fala do sofrimento da vida humana e nos lembra da finitude até mesmo dos reinos mais elevados. Aqui, Tran Le Khanh aborda o conceito de "sofrimento" de uma maneira única: sofrimento não é apenas privação, mas também a incapacidade de manter a felicidade.
Além disso, os pequenos, mas assombrosos detalhes também retratam sofrimento: "A formiga-de-fogo está perdida na noite/ A pequena alma se levanta para olhar o céu". A formiga, símbolo do pequeno, do sem nome, perdido na noite. No entanto, essa "pequena alma" ainda "se levanta para olhar o céu". Esse é o desejo de escapar de uma condição inferior, o desejo de libertação, não por meio de grande força, mas por um frágil despertar.
Assim, a poesia de Tran Le Khanh retrata um ciclo da vida: da impermanência à reencarnação, do sofrimento ao desejo de libertação. Ele não recria ensinamentos áridos, mas os torna vivos com imagens cotidianas: um crisântemo antigo, o vento soprando no rosto, uma formiga-de-fogo na noite... Essa é a maneira de aproximar a filosofia budista, tocando a consciência dos leitores.
Símbolos e mensagens budistas sobre a vida e a estética
Outro destaque na poesia de Tran Le Khanh é a presença de imagens de pagodes, monges e momentos de meditação. Esses elementos são tanto contextos religiosos quanto símbolos estéticos e filosóficos.
O templo surge como um espaço sagrado, onde tudo carrega a marca da espiritualidade: "O templo é sagrado, até a folha de grama é sagrada/ a luz brilha apenas sobre os seres sencientes" . O templo é sagrado não apenas por causa da estátua de Buda ou dos sutras, mas até mesmo a "folha de grama" está imbuída de espiritualidade. Talvez isso represente o espírito de todos os seres sencientes: todas as coisas contêm a natureza búdica, todas têm a capacidade de evocar a iluminação. No entanto, essa luz "brilha apenas sobre os seres sencientes", lembrando que são os humanos, em sua finitude, o lugar para onde o sofrimento converge e onde a luz é mais necessária.
O pagode no poema de Tran Le Khanh não é uma construção grandiosa, mas frequentemente muito simples: "O pagode foi construído de forma rudimentar/ com alguns passos sem rumo na grama". Um "pagode rudimentar" é criado com apenas alguns passos na grama. Esta imagem demonstra a simplicidade do estilo de vida budista e também sugere que os pagodes são, antes de tudo, espaços espirituais, independentes de bens materiais, mas que surgem da sinceridade.

A imagem do monge também aparece, associada ao mundo de pó e à luz da compaixão: "O monge caminha entre o pó do mundo/ A luz dourada do sol repousa sobre os pés na estrada". "Pó do mundo" é um símbolo do mundo mundano, mas "A luz dourada do sol repousa sobre os pés" tem o significado de purificação e apoio. O verso mostra a presença do monge como um ato de transformação: entrando no mundo, mas ainda brilhando com serenidade, trazendo fé e proteção.
Outra imagem evocativa: "o monge/ entra no salão principal/ sua sombra/ se afasta". A sombra – símbolo do ego – é empurrada para o lado. Ao entrar no salão principal, o monge parece se fundir ao espaço sagrado, deixando para trás seu ego. Esta é uma expressão artística para o estado de despertar, quando a pessoa se torna pura e não dominada pelo ego.
Tran Le Khanh descreve momentos meditativos com uma metáfora: "a distância/ entre mim e Buda/ é igual ao tamanho de sua mente vazia". Essa distância não é medida pelo espaço, mas pela "mente vazia" – um conceito central no budismo. Isso significa que a fronteira entre os mortais e a iluminação reside apenas no vazio da mente. O verso é simples, porém profundo: somente quando a mente estiver completamente livre de delusões, a diferença entre os humanos e Buda desaparecerá.
Através das imagens acima, percebe-se que Tran Le Khanh construiu um espaço budista que é ao mesmo tempo concreto ( pagode, monge, salão principal ...) e simbólico ( mente vazia, sombra, formigas... ). Essa combinação contribui para que sua poesia se aproxime da vida espiritual do povo vietnamita, ao mesmo tempo em que sugere profundas camadas filosóficas.
Em termos estéticos, a poesia de Tran Le Khanh combina a intuição zen com a modernidade da linguagem. A intuição zen se expressa na maneira como ele captura momentos, por exemplo, "o universo é um cílio / cada piscar de olhos leva um dia" — conciso, mas com profunda filosofia. A linguagem moderna se expressa na técnica de romper com estruturas tradicionais, trazendo imagens cotidianas para o pensamento budista, tornando o poema ao mesmo tempo estranho e familiar.
Pode-se dizer que a poesia de Tran Le Khanh se assemelha tanto à poesia zen quanto à poesia filosófica moderna. Essa intersecção cria uma voz poética única: sem se preocupar com a forma, mas sempre sugerindo reflexões profundas. Ao ler sua poesia, as pessoas encontram a beleza da linguagem e uma sugestão para viver em paz em uma vida turbulenta.
Por meio de versos simples, mas comoventes, Tran Le Khanh inaugura uma jornada de contemplação sobre o budismo de uma forma única. Ele não prega doutrinas, mas usa imagens poéticas para tocar a consciência dos leitores. A jornada "do pó ao salão principal" em seus poemas é a jornada que cada um de nós pode encontrar na vida: do sofrimento e da impermanência para encontrar a paz e a libertação em nossos próprios corações.
Fonte: https://nhandan.vn/hanh-trinh-phat-tinh-trong-tho-tran-le-khanh-post908463.html
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